Chama-se É Um Restaurante, mas é mais do que isso. O novo espaço lisboeta forma e insere no mercado de trabalho uma equipa de ex-sem abrigo. Há petiscos para partilhar e preços acessíveis.
É Um Restaurante. Que o singular nome de batismo não deixe grande margem para dúvidas. Este é, sim, um restaurante, mas é muito mais do que apenas isso. O novo projeto da associação CRESCER veio ocupar a porta 56 da Rua de São José, a dois passos da Avenida da Liberdade, com uma nobre missão ligada à reinserção social: formar e inserir no mercado de trabalho uma equipa de pessoas que já estiveram na condição de sem-abrigo.
A carta do novo É Um Restaurante é apoiada numa cozinha descomplicada sem descurar sabor e diversidade, e com preços bastante acessíveis. Nuno Bergonse tem a seu cargo a curadoria do que sai da cozinha e chega à mesa, resultado de um processo longo de formação que abrangeu não só competências relacionais como de restauração.
«Aqui, interessa que a comida seja boa. Mas esta nem sequer é o mais importante no projeto. Estamos a mudar a vida das pessoas», começa por explicar o chef e atual jurado do programa da TVI «Masterchef», que tem trabalhado com a CRESCER em projetos solidários anteriores. «O desafio é combater a insegurança destas pessoas, que têm sido rejeitadas pela sociedade e por elas próprias. Agora ganham confiança porque são ouvidas, são acarinhadas, têm um objetivo», acrescenta Bergonse sobre a equipa de uma dúzia, com idades entre a faixa dos 20 e dos 50.

A tiborna de escabeche de pato e uvas tintas. (Fotografias: Arlindo Camacho)

Ervilhas com porco bísaro e ovo escalfado.

O chef Nuno Bergonse lidera a cozinha.
Nos petiscos, aconselha-se que se peçam um prato a mais em relação ao número de pessoas sentadas à mesa. Escolhe-se entre uma tiborna de escabeche de pato e uvas tintas (7€); ou uma das várias opções vegetarianas, desde a sopa de castanhas e funcho com marmelada (4,5€) aos peixinhos da horta com molho tártaro (5,5€) e à colorida salada de beterraba com laranja e sésamo (6€). Os vegetais, de resto, têm um peso forte na carta, com qualidade garantida: o fornecedor de legumes de Bergonse é o mesmo há mais de uma década.
Da cozinha do novo restaurante lisboeta saem bochechas de porco preto com farofinha e aipo (9€); o pica-pau de polvo (9,5€); ervilhas com porco bísaro e ovo escalfado (7,5€); ou o peixe de mercado crocante com açorda de tomate e algas (9,5€). Para a despedida, vale a pena provar o pudim de azeite e mel com sorvete de tangerina; ou até a rabanada com caramelo e gelado de cardamomo, até porque o Natal, já dizia Ary dos Santos, é quando o Homem quiser.
Propostas para saborear na simples e confortável sala, onde imperam o verde e o laranja como cores decorativas, as mesmas que servem de base à obra que o conhecido ilustrador AkaCorleone (Pedro Campiche) fez para uma das paredes. O É Um Restaurante começou por funcionar apenas aos jantares, mas estende a partir da primeira semana de novembro a sua oferta aos almoços, de terça a sexta-feira. «Tínhamos uma grande expectativa em relação a esta iniciativa, mas o feedback das pessoas tem sido muito positivo», explica Florencia Salvia, uma das coordenadoras da CRESCER, fundada há quase duas décadas, e que veio dar nova vida a um espaço que estava desocupado há alguns anos.

Abóbora assada com queijo de cabra, cevada e avelãs.

A rabanada com caramelo e gelado de cardamomo.

O restaurante fica situado na Rua de São José.
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