
“Ainda Estou Viva” by Han Eun-Mi
Sobre a Obra:
A jovem Han Eun-mi nasceu na Coreia do Norte. Viu os seus pais morrerem lentamente à fome. Viu as ruas encherem-se de crianças órfãs, como ela. Sabia que podia ser presa, torturada ou assassinada a qualquer instante, sem acusação ou hipótese de defesa. Sabia que o silêncio e a obediência cega eram a sua única hipótese de sobrevivência. Tinha a certeza de que a fuga era a sua única esperança.
Para escapar à fome, Han tentou tudo. Do trabalho violento à vida nas ruas, à mercê de esmolas. Quando percebeu que as suas forças estavam a chegar ao fim, resolveu arriscar a vida e partir rumo ao desconhecido…
Em 2009, conseguiu atravessar a fronteira para a China, mas o seu calvário não termina aí. Tal como acontece com milhares de pessoas indefesas um pouco por todo o mundo, tornou-se vítima de tráfico humano. Foi obrigada a viver com um homem chinês, que a violou repetidamente, e acabou por dar à luz o filho de ambos. Só em 2015 é que Han pôde finalmente respirar o ar da liberdade. Tida como «desertora», conseguiu escapar para a Coreia do Sul. Esta é a sua dramática e inspiradora história. Um apelo ao mundo. Para que não se ignore a desumana realidade da vida na Coreia do Norte.
As ilustrações no interior deste livro são da autoria de um artista norte-coreano, também ele desertor. As fotografias são proibidas na Coreia do Norte, pelo que as únicas provas verdadeiras da vida no país provêm de desenhos ou relatos. Estas ilustrações basearam-se nas memórias do artista e nas descrições da autora.
Sobre o Autor:
Han Eun-Mi nasceu em Wonsan, na província de Gangwon, a mais velha de duas irmãs. Após concluir o ensino básico, teve de suportar quatro anos de trabalhos duríssimos num batalhão de construção. Depois de viver nas ruas de Wonsan, Han fugiu para a China, tornando-se vítima de tráfico humano. Forçada a viver com um homem chinês, acabou por ter um filho seu. Em 2015, conseguiram escapar, e atualmente vivem em Seul. Han Eun-Mi não pode ser fotografada pois uma parte da família vive ainda na Coreia do Norte e correria risco de vida.
Simon Lim é um tradutor freelancer que mora em Seul, e o responsável pela tradução deste livro do corano para o inglês. Ao longo dos últimos dez anos, tem traduzido diariamente artigos para a equipa de notícias online em inglês do jornal Chosun Ilbo. Também tem trabalhado como jornalista para agências de notícias britânicas e coreanas, incluindo a Reuters e o Korea Herald.
Citações:
“A Coreia do Norte pode estar a ameaçar o mundo com as suas armas nucleares, mas esse não é o verdadeiro resto do país empobrecido. Os governantes da Coreia do Norte exortam as pessoas a se esforçarem mais e a suportarem um pouco mais de sofrimento sob o “songu”, isto é, a ideologia de que o exército está em primeiro lugar, afirmando que as armas nucleares irão garantir um futuro seguro. Mas, por de trás desta fachada, está a realidade dura de que os Norte-Coreanos estão a morrer à fome ao mesmo tempo que o Estado já não é capaz de alimentar o seu povo. Os Norte-Coreanos passaram por um terrível sofrimento sob a ilusão de que “uma nação, forte e próspera” surgiria no final da “Marcha Árdua”. Mas mal sabiam ele que no final desse túnel negro os esperava outro slogan: a ideologia da “autossuficiência”. A Marcha Árdua, Nação Forte e Próspera e Autossuficiência.”
“Não havia fim à vista para a miséria e o sofrimento. Queria rogar uma praga ao governo norte-coreano que promovia a autossuficiência assim como os governantes do Partido dos Trabalhadores que enalteciam a ideologia songun. Na realidade, os norte-coreanos sem dinheiro ou poder estavam condenados à morte, enquanto os mais fortes ficavam ainda mais fortes. Os norte-coreanos que simplesmente desvalorizam esta tragédia como uma consequência da política norte-coreana não possuem qualquer consciência ou alma. Os lideres do Partido vivem confortavelmente nas suas casas, alheios às criticas da comunidade internacional, enquanto exploram os outros até não poder mais.”

“Para serem dispensadas dos trabalhos mais árduos, as mulheres muitas vezes ofereciam-se aos comandantes dos batalhões e aos funcionários do partido e estes homens acreditavam que tinham direito a esse tipo de prazeres. Na verdade, todos os funcionários do Partido consideravam os trabalhadores do sexo feminino os seus brinquedos sexuais e utilizam-nas ao seu bel-prazer.”
“Os abortos eram comuns entre as mulheres grávidas devido à intensidade do trabalho. As mulheres grávidas não tinham direito a pausas, e pelo contrário, eram obrigadas a trabalhar ainda mais arduamente para abortarem.”
“A maior parte dos norte-coreanos é obrigada a lutar por rações escassas de comida e vive apenas para colocar comida nos estômagos. Muitos acabam por se tornar ladrões ou pedintes.”

“Mas as leis norte-coreanas não abrangem as raparigas pobres que são vítimas de violação. E se um caso desses for denunciado, é provável que a polícia arraste os pés, queixando-se de que não tem uma descrição clara dos criminosos ou peça um suborno considerável para começar a fazer o seu trabalho.”